A minha professora

Maria era uma jovem muito bonita, com uns doces olhos cor de amêndoa, uma postura sempre serena e delicada! “Uma verdadeira princesa” – como lhe dizia, envaidecida, a mãe! Maria adorava escrever, desde muito nova! 

“Tens uma letra linda e perfeita” – ainda hoje se lembrava do dia em que os padrinhos de batismo tinham decidido ir viver para um país lá longe, a Austrália, tão longe que aos cinco anos, quase seis, Maria ainda nem sequer sabia onde ficava no mapa. À data, o mundo era do tamanho da casa dos pais e dos avós para onde iam aos fins-de-semana e nas férias de verão! E, sempre que estava no terraço de casa, olhava para o horizonte e perguntava à mãe que país era aquele que via lá longe e se era ali que o mundo acabava? Era tudo quanto os seus olhos conseguiam alcançar! 

Naquela tarde, saiu de casa com os pais para se ir despedir dos padrinhos. E, de repente, no meio da conversa de adultos, Maria segurava, orgulhosa, o caderno de linhas na mão, de capa preta. Decidiu mostrar aos padrinhos como já sabia escrever bem! Estava prestes a entrar na escola e já sabia escrever o nome. Apesar da felicidade que sentiu ao ser elogiada pelos pais e pelos padrinhos, que tanto adorava, estava ao mesmo tempo triste por não compreender por que motivo os padrinhos iam viver lá longe! Era uma sensação de abandono que a invadia!

Sempre que os pais deixavam, o padrinho passava lá em casa e seguiam de carro para passar mais um fim-de-semana de sonho, todos juntos: Maria, “a filha emprestada” como carinhosamente lhe chamava o padrinho, os padrinhos e os filhos (dois rapazes). Eram momentos inesquecíveis e que ainda hoje a deixavam com saudades. 

Além dos padrinhos ia perder dois grandes amigos, os filhos dos padrinhos, com quem adorava estar. Naquele instante sentiu vontade de partir à descoberta com os padrinhos e poder conhecer o mundo de que tanto ouvira falar. Para isso, porém, teria de deixar os pais e os irmãos. E isso sabia que, jamais, conseguiria.


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