Tlim, tlim, tlim...
O som das campainhas ouvia-se cada vez mais forte! O coração de tanta ansiedade e excitação começava a palpitar. O compasso estava a chegar! Usávamos a melhor roupa que tínhamos, depois de tantas provas na costureira Rosalina que, apesar de já não acompanhar muito as últimas tendências "era boa de mãos e senhora séria", insistia a minha mãe. O rosto fofinho com creme e as roupas cheirosas. Corríamos de mãos dadas, eu e a minha irmã. O que mais queríamos era chegar a tempo a casa da avó materna, onde já estavam primos, tios e a avó, a nossa eterna Milinha. Beijávamos a cruz, engolíamos amêndoas e depois do compasso sair, corríamos outra vez para voltar a chegar em primeiro à casa da avó paterna. Mais tios e primos e mais um reforço de amêndoas ou pão de ló. Pelo caminho o cheiro das glicínias e dos assados já perfumava as ruas da aldeia. As casas frescas e mais limpas que nunca, do teto ao chão, sem esquecer tapetes e cortinas.
Por fim, era Páscoa em nossa casa. Na mesa a melhor toalha de renda, flores por todo o lado ...Jesus ressuscitou, aleluia, aleluia!
Uma Páscoa doce, feliz e sem preocupações...
Éramos crianças, não conhecíamos o covid nem sabíamos onde ficava a Ucrânia. Só queríamos comer amêndoas, cheirar as flores, ouvir as campainhas e almoçar sem sujar a roupa nova. Parece que já foi há muito tempo!
Sem darmos por isso, já estava na hora de irmos à missa que reunia todos os compassos a desfilar pela igreja, ao som da banda musical, a ecoar, bem alto, esperança e renovação!
Comentários
Enviar um comentário