Carta aos avós

Cansada de estar agarrada aos ecrãs e presa às redes sociais, Benedita lembrou-se que há muito que não escrevia uma carta e então sentou-se e de uma assentada só dirigiu umas palavras aos avós (já partidos deste mundo).

Queridos avós,
Tenho tantas saudades das tardes que passávamos todos juntos na casa da praia, nos meses mais frios, mas ainda assim bem mais quentes que na nossa casa, em Viseu.

Tenho saudades de todos juntos saltarmos à corda no terraço, abrigados pela claraboia que deixava entrar os raios de sol e permitia ouvir o som forte dos pingos da chuva...

Tenho saudades de saltar ao elástico com a mana e de jogar à macaca com as nossas amigas da praia...

Tenho saudades de brincar às escondidas com os primos, todos juntos! Éramos muitos, a casa pequena, mas cabíamos todos lá! E, como era possível, perguntam vocês? Porque, embora não soubéssemos, a vossa casa era do tamanho do vosso coração e esse era gigante!

Tenho saudades dos berlindes que o João, que vivia do outro lado da rua, colecionava...

Tenho saudades do pão com manteiga e do cheirinho a cevada acabada de fazer...

Tenho saudades de, já no verão, passarmos dias e dias na praia! As horas davam lugar aos dias, os dias passavam a semanas e as semanas transformavam-se em três meses de férias de verão inesquecíveis! 

Tão memorável que ainda hoje, quando olho para os meus filhos, me lembro desses intermináveis meses e percebo como o coração dos avós é sempre do tamanho do mundo! 



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