Dias azuis

Estava um dia chuvoso, cinzento, carregado de vento a soprar más notícias e a adivinhar mais um mau dia, mas Maria estava decidida! 

Este era o dia da mudança.

O dia em que ela queria pintar todos os dias de azul! 

Azul do céu! Azul do mar! A cor do aconchego e da serenidade! 

Era, pelo menos assim que Maria queria imaginar os dias, desde aquele momento! Para ela, o azul era a cor da esperança! 

Em casa, o almoço foi parco em palavras e até um pouco apressado! 

Todos estavam ansiosos por conhecer mais um dia de números trágicos. 

O país e o mundo vivem tempos inéditos, repletos de angústia, medos, receios e ansiedades. 

As pessoas andam estranhas e Maria não é exceção. 

São mais de duzentas mortes deste implacável vírus que nos vai tirando a vida, mesmo àqueles que não entram na lista negra.

As situações mais comuns e simples ganharam novas rotinas. Tudo é feito com cautela e receio. 

“Um dia destes, só nos falta mesmo desinfetar a alma”, desabafou enquanto suspirava e se reclinava na cadeira baloiço junto à lareira. 

Saturada, esgotada, desmotivada e até revoltada, Ma ria adormeceu e quando acordou aproveitou para arrumar as ideias. 

Decidiu que, apesar de todas as circunstâncias adver sas, estava nas mãos dela, a hipótese de pintar de azul os dias.

Vamos a isso?

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